O que é?


Entenda o cérebro do idoso



      Em primeiro lugar, desejamos fazer algumas perguntas a você, leitor. Você sabe ou já ouviu falar em cognição? Sabe que temos várias funções cognitivas? Pois bem, qualquer que seja a sua resposta, resolvemos trazer esses conceitos para refrescar a sua memória ou mesmo para apresentar a você algo tão importante e que não é de conhecimento de todos.


     Então, lá vai: a cognição é o funcionamento mental, composto por diversas funções tais como: memória, linguagem, percepção, atenção e funções executivas. Sobre a memória é importante dizer que temos mais de um tipo de memória; na verdade, um conjunto/sistema delas, divididas de acordo com o tipo de informação e como o cérebro faz para se lembrar. Com a linguagem somos capazes de apreender o mundo e nos relacionar com os outros. Já a percepção é maneira pela qual interpretamos os sentidos (visão, olfato, paladar, audição, tato, etc) que captamos, isto é, damos significados a eles. A atenção é importante para realizarmos as atividades do dia a dia; pois se cozinhamos, acompanhamos um programa de televisão ou se lemos um livro é porque tivemos, minimamente, um pouco de atenção. Enquanto isso, devemos às funções executivas o fato de planejarmos atividades, resolvermos problemas, limparmos a casa, tomarmos remédio na hora exata, etc.



    Agora que você já sabe disso, vamos adiante. Em segundo lugar, vale dizer que, ao longo de nossa vida, o cérebro passa por algumas mudanças que são vistas inclusive na Terceira Idade. Mas as alterações cognitivas nos idosos saudáveis são diferentes do que em outras faixas etárias. Ao contrário do que se imagina essa etapa não é constituída apenas de perdas. Embora elas aconteçam, também se verifica perda mínima, manutenção ou até aumento de algumas capacidades. Além disso, as alterações na cognição dos idosos variam de idoso para idoso, sendo influenciadas por diversos fatores, como a escolaridade e a hereditariedade (características que herdamos dos nossos pais e/ou familiares).


   Acontece, por exemplo, um declínio da atenção, das funções executivas (responsáveis pelo planejamento, organização, tomada de decisão, iniciativa, inibição de ações impróprias, etc.), habilidades visuoespaciais e de alguns tipos de memórias, (como as relacionadas ao tempo e espaço físico, bem como as que são responsáveis de lembrar o nome de alguém que acabamos de conhecer, ou mesmo decorar um número novo de telefone). No entanto, todas essas “perdas” são esperadas e, portanto, normais no processo de envelhecimento.

   Por outro lado, a linguagem encontra-se preservada em alguns aspectos no idoso e, em alguns casos, o vocabulário pode até aumentar. Do mesmo modo, as habilidades dependentes da cultura/experiência tendem a se manter estáveis, assim como também ocorre a manutenção de alguns tipos de memórias (como a de conhecimento sobre o mundo e as mais “automatizadas”, que é o caso de dirigir carros, amarrar sapatos e escovar os dentes).

   E, por último, o mais interessante disso tudo é que as capacidades intelectuais dependentes da cultura/experiência são capazes de compensar as perdas que ocorrem no envelhecimento biológico saudável. Daí a importância de manter o cérebro ativo/estimulado – objetivo que pode ser conquistado, dentre outras formas, pelo treino cognitivo.


E quando essas perdas não são normais?

   Como foi dito acima, acontecem algumas alterações no envelhecimento cognitivo, como o declínio/diminuição de algumas funções. Mas é necessário lembrar que há um limite para que essas perdas sejam consideras normais.

   Por isso, é importante ficar atento quando o idoso começa a perder a sua autonomia, isto é, a não conseguir mais fazer coisas que ele fazia antes e depender cada vez mais das pessoas a sua volta (porque essa mudança de comportamento pode ser fruto de alterações cognitivas não esperadas, que não são saudáveis).


   Mas, às vezes, tais alterações são tão intensas que, no futuro, podem originar algumas doenças, como o Comprometimento Cognitivo Leve e a doença de Alzheimer. Por outro lado, a “perda” da autonomia do idoso pode ser decorrente de algum outro motivo e só um profissional capacitado pode tirar essa dúvida. E é justamente por questões como essa que o idoso merece ser levado e acompanhado por um geriatra e/ou gerontólogo, pois esse profissional será capaz de realizar o diagnóstico correto e orientar o tratamento adequado (que, dependendo do caso, pode até ajudar a frear o avanço dessas doenças, embora elas não deixem de avançar, já que não existe atualmente cura para elas).


Treino cognitivo: o que é?

   No envelhecimento saudável há a possibilidade de compensação dos declínios que ocorrem normalmente. Há também para os casos de lesões cerebrais devido a traumatismo cranioencefálico ou a doenças neurodegenerativas, possibilidades de melhora dos déficits cognitivos causados por aquelas condições. Essas intervenções se referem, respectivamente, ao treino cognitivo e à reabilitação neuropsicológica/cognitiva. Podemos conceituá-las das seguintes formas:

Treino Cognitivo: é uma técnica que objetiva potencializar o desempenho cognitivo e compensá-lo quando há declínio devido ao desenvolvimento saudável ou a alguns casos específicos do desenvolvimento patológico.

Reabilitação Neuropsicológica: é uma terapêutica que visa a recuperação parcial e a melhoria de processo cognitivos e emocionais afetados por danos ao cérebro, além de promover o bem estar, a qualidade de vida e minimizar a magnitude dos déficits na vida dos indivíduos.

    O treino cognitivo é uma técnica geralmente incluída da reabilitação neuropsicológica, senda esta um processo mais amplo e que trabalha em vários níveis (cognitivo, comportamental, emocional e social). Assim, na reabilitação neuropsicológica o treino cognitivo pode ser usado para potencializar habilidades remanescentes que correm o risco de sofrer prejuízos, além de servir como recurso de compensação.

   No contexto do envelhecimento, o treino cognitivo da memória é mais conhecido, para o qual as evidências apontam que idoso saudável é capaz de aproximar seu desempenho atual do seu desempenho máximo possível, revelando plasticidade cognitiva. Tradicionalmente, nos estudos sobre treino, os idosos aprendem estratégias que podem melhorar o desempenho em tarefas de memória episódica, como a memorização de pares de faces e nomes ou listas de palavras, com possível aplicação para o cotidiano.


Referências

Neri & Neri. (2011). Envelhecimento Cognitivo. In: Tratado de Geriatria e Gerontologia. Freitas & Py et al. Rio de Janeiro: Guanabara.